Mesa “Entre ruas e gabinetes” discutiu o papel do advocacy na mudança da política de drogas
A terceira mesa do Congresso da PBPD debateu a relação entre movimentos sociais e a política institucional. Mediada pelo coordenador de Relações Institucionais da Plataforma, Gabriel Elias, a discussão a contou com a presença de Felippe Angeli (Sou da Paz), Ingrid Farias (ABORDA) e Thiago Calil (É de Lei).
Na fala de abertura, Gabriel afirmou que o momento para discutir estratégias de atuação não poderia ser melhor. Ainda impactados pela mesa de quinta-feira, que discutiu amplamente os efeitos da conjuntura nacional na reforma da política de drogas, os palestrantes reafirmaram a importância de um espaço que congregue as diversas áreas que trabalham com o tema.
A mesa “Entre Ruas e Gabinetes” foi iniciada a partir de uma provocação do mediador: existe, afinal, uma tensão entre a área de advocacy e os movimentos sociais? Felippe Angeli afirma que não. Para ele, a área é um grande “guarda-chuva” que consegue acolher as demais estratégias – lobby, comunicação e mobilização – desde que se relacionem entre si.
Ingrid concorda. Uma das coordenadoras do Encontro Nacional de Coletivos e Ativistas Antiproibicionistas (ENCAA), a ativista afirmou que os movimentos de base entenderam que sem a presença nos gabinetes não há mudança. Para ela, o movimento pela reforma da política de drogas passou a ganhar atenção nos espaços institucionais depois que começou a ampliar o discurso pela descriminalização. “Esse movimento está em transição: deixa de ser pauta do consumo pessoal e começa a falar de questão de gênero, raça”, afirma. Segundo Ingrid, a própria Marcha da Maconha, idealizada para defender o direito ao uso de drogas, se transformou – e o tema finalmente chegou às autoridades. “A gente entendeu que o movimento não pode ficar só na rua”, disse.
Na mesma linha, Thiago Calil contou as experiências do coletivo É de Lei com as autoridades municipais e federais. Para ele, a principal estratégia de sua organização é se transformar em ponte entre as ruas e os gabinetes. “A gente entendeu que podia traduzir as demandas da base para as autoridades”, afirmou. Em sua fala, alertou para as consequências de decisões verticais, comuns no poder público, na área de atendimento à saúde. “O cuidado com as pessoas não pode ser atravessado por disputas”, afirmou.
Nas intervenções da plateia, o papel da Plataforma foi inúmeras vezes ressaltado – e cobrado. “A Plataforma precisa assumir esse papel político. A gente tem que estar disposto a ser incômodo”, afirma Yasmin. “Seja dentro do gabinete ou nas ruas, a gente tem que entender que estamos num espaço em construção”, diz.