Foto: Paulo Gomes/Folhapress
Por Maurício Fiore
A megaoperação de hoje foi realizada pelo Denarc e já vinha sendo cogitada há algum tempo. A Tropa de Choque foi chamada porque há resistência sempre que uma operação desse tipo acontece. A situação da região é complexa e se apresenta praticamente como um dilema que é próprio do paradigma proibicionista. De fato, há um tráfico intenso na região da Luz, local de moradia e de circulação de muitos consumidores de crack e de outras drogas. Estão lá para encontrar drogas e/ou um lugar para usá-las, por conta de relações econômicas e sociais – se troca e se arranja de tudo por lá – ou em busca de um refúgio para ameaças diversas. Ou tudo isso junto.
A principal política pública para a região é o Programa De Braços Abertos, da Prefeitura de São Paulo, que está centrado na garantia de condições mínimas de vida (moradia, trabalho, alimentação e saúde) e na redução de danos, uma estratégia para diminuir os riscos e as consequências ruins que podem estar relacionada ao uso de drogas que não tem a abstinência como seu pressuposto. É um programa incipiente, mas que tem alcançando bons resultados preliminares e que inovou o foco da ação do Estado na região, até então marcada pela repressão policial, no mais das vezes, violenta. Os gestores do De Braços Abertos não alteraram, no entanto, a ideia de que se deve continuar combatendo o tráfico, visto como a grande ameaça ao sucesso do programa.
Operações como a de hoje prendem muita gente e apreendem quantidades de drogas que parecem expressivas, mas a um custo enorme de violência contra as pessoas que vivem ali. Foram, inclusive, revistados alguns hotéis do programa De Braços Abertos. Ainda que a ação tenha conseguido desbaratar uma quadrilha, qual o resultado positivo na vida de quem mora ou circula por ali? Alguém acredita que por conta de uma megaoperação policial alguém irá parar de consumir crack ou até mesmo diminuirá a venda de drogas ilícitas na região? O uso da tropa de choque é compatível com a ideia de operação de inteligência policial? Como fica o vínculo dos usuários com as equipes de assistência depois de bombas e balas de borracha?
O próprio prefeito vinha cobrando uma ação do Denarc contra o tráfico na região. Agora, que a maior delas ocorreu, espero que todos os envolvidos revejam, a partir dos seus resultados, o pressuposto de que é possível construir uma política de drogas solidária, justa e racional tendo como objetivo o combate policial e militar contra pessoas que vendem drogas.