Por Ámbito Financiero ( Argentina )
Santiago – A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) aprovou na noite passada, em Montevidéu, um acordo sobre a política mundial de drogas que pede uma mudança no modelo repressivo vigente de luta contra o narcotráfico, numa reunião considerada ‘histórica’ para o bloco, que apresentará o documento acordado à ONU em abril, em Nova York.
“É algo histórico (o encontro) porque a América do Sul tem sido a mais afetada nessa luta contra o narcotráfico. Te digo isso por experiência própria no meu país”, falou à imprensa Ernesto Samper, secretário geral da UNASUL e ex-presidente da Colômbia (1994-1998).
“Na Unasul, acreditamos que devemos mudar a estratégia atual. Estamos sendo duros com os mais fracos e fracos com os mais fortes, estamos fazendo ao contrário”, acrescentou ele. “Devemos deixar de perseguir os agricultores pobres, não aprisionar os consumidores e dar-lhes um tratamento educativo e preventivo”, disse o presidente.
Para o secretário geral da Unasul, é “absurdo” dar o mesmo tratamento repressivo aos dependentes, aos membros de cartéis de drogas. “Temos o direito de exigir uma alternativa à política proibicionista na questão das drogas. Ela está gerando enormes custos sociais, econômicos e institucionais”, afirmou.
Nesse contexto, Samper se mostrou orgulhoso das propostas de revisão das políticas proibicionistas, que durante os últimos anos, estão se desenvolvendo nos países da América Latina. “Na região, estão florescendo iniciativas que apontam para a mesma direção: há de ser generoso com os mais necessitados e mais duros com os mais fortes. O populismo cognitivo não leva à lugar nenhum”, disse.
Comoa presidência temporária do órgão é do Uruguai até abril de 2006, Montevidéu recebeu a reunião do Conselho Sul-Americano sobre o Problema Mundial das Drogas, do qual Samper participa.
O encontro culminou com a adoção de um documento regional com o objetivo de incorporar a perspectiva dos direitos humanos nas políticas sobre drogas e questionar o modelo repressivo atual durante a sessão temático da Assembléia Geral das Nações Unidas, conhecida como UNGASS, no ano que vem, em Nova York. “Apesar dos esforços da política proibicionista atual, hoje em dia há mais de 300 milhões de consumidores de drogas”, lembrou.
Samper expressou o “evidente fracasso” da chamada guerra às drogas e enfatizou a “autoridade” que a América do Sul tem para propor uma mudança para um olhar mais humanista sobre o tema pela “quantidade de pessoas e recursos econômicos e institucionais” que foram sacrificados na região do “do ponto de vista policial ou militar” exclusivamente. “Por exemplo, deve existir uma nova política quando se fala de cultivos ilícitos. Não se pode apenas destruir os cultivos quando se tratam de camponeses. Deve se criar uma distinção entre o consumo social e medicinal do consumo dependente de substâncias como a maconha”, afirmou, antecipando alguns pontos do acordo.