Por Luana Malheiro, Nathália Oliveira e Tatiana Diniz
A PBPD celebra o dia 20 de novembro no Brasil reafirmando seu compromisso de unir esforços para o combate ao racismo em todo o território nacional. Para nós, a política de drogas precisa ser pensada na centralidade do combate às injustiças raciais que são consequência e resultado direto do projeto de poder instituído pela guerra às drogas. A PBPD seguirá denunciando os mecanismos desta guerra, arquitetada em nome do suposto combate às drogas, mas que de fato se converteu em uma guerra contra pessoas negras e periféricas.
No Brasil, a política de drogas tem servido como estratégia de fortalecimento de uma hierarquia racial, protegendo pessoas brancas e criminalizando pessoas negras. Neste dia 20 de novembro, dia da consciência negra, afirmamos nosso pacto antirracista de luta por uma nova política de drogas pautada na reparação dos povos e comunidades diretamente afetadas pela guerra às drogas, e na produção de políticas de vida, cuidado e atenção ao povo negro. Esta luta precisa ser de toda a sociedade brasileira.
Hoje também é dia de lembrar o pensamento-ação quilombista de Zumbi dos Palmares, grande liderança pela libertação do povo negro que, junto com Dandara, criou o maior território de resistência à dominação colonial no nordeste brasileiro, inspiração para todo o país. Combater o racismo é combater uma marca colonial que historicamente impede o acesso à cidadania e aos direitos sociais. Relembrar Palmares é celebrar a resistência negra à dominação colonial e reafirmar a esperança na aliança antirracista contra a continuidade desta herança.
Soma-se a isto o fato de que a crise política e sanitária atualmente enfrentada pelo Brasil tem construído uma nova fase do racismo, cruel e escancarada. Portanto, convocamos toda a sociedade brasileira para a luta em defesa do direito à vida do povo negro.
Só acreditamos em um projeto de política de drogas que seja fundamentalmente antirracista.
“Te vejo meu povo feliz
Teu sonho queremos sentir
Se Palmares ainda vivesse
Pra Palmares teria que ir
Você já pensou se Domingos Jorge Velho e sua malta
Não houvessem tido tanta sorte?
Já pensou naquele país da Serra da Barriga?
Sei que talvez não,
É difícil imaginar uma terra (…)
Onde não fosse possível ver
Criancinhas
De dez, oito, seis
Voltando às quatro da manhã
Depois de vender chicletes e o último resquício de dignidade
Nos cruzamentos da cidade
(…)
Por menos que conte a história
Não te esqueço meu povo
Se Palmares não vive mais
Faremos Palmares de novo.”
(Quilombo, poema de José Carlos Limeira)
Luana Malheiro é antropóloga e coordenadora de articulação da PBPD, Nathália Oliveira é socióloga e assessora de gestão e governança da PBPD e Tatiana Diniz é jornalista e coordenadora de comunicação da PBPD.